Faço fotos do meu marido desde 2012. Essas fotos acompanham todas as mudanças vividas por ele: desde o reconhecimento como uma pessoa preta vivendo no Brasil, até a perda recente de sua mãe. Meu trabalho é voltado para o íntimo, o interno, sempre com o reflexo do externo. Sigo uma fala de Annie Leibovitz: “Photographing the people close to you, the people who will put up with you, is probably the most rewarding work you will do. It may never be published, but it is the work that you should care about most and embrace.”

Assim como eu acompanho suas mudanças, ele percebe as minhas buscas. Busco nele, também, meus avanços, meus questionamentos. Ao mesmo tempo que me entendi como mulher no mundo, ele se percebeu como um homem negro vivendo em uma sociedade racista. A pandemia escancarou as péssimas condições da população negra no Brasil, independente de classe. Lucas perdeu vários familiares para a Covid, ao passo que ele combatia - por três vezes - o vírus contraído enquanto trabalhava.

E ainda, durante todas esses acontecimentos, meu trabalho enquanto fotógrafa modificava e se revelava aos meus olhos. Por anos, fui (e ainda sou) fotógrafa de família. É isso que paga minhas contas e faz com que dedique muito do meu tempo. Ao mesmo tempo, sou estudante de mestrado em universidade pública no Brasil, sem nenhum apoio do Governo. Esse Prêmio seria meu encontro com a possibilidade de me dedicar aos meus projetos, com calma e sabedoria.

As mudanças começam por dentro, não é mesmo? Por isso escolhi essas imagens, tão importantes para nós dois, íntimas, fortes e que partem de dentro.

Método: analógico médio formato e digital

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